quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Lembranças.

*De volta a Terra Dourada.

É como um baralho, um jogo onde cada carta tem sua importância.
No decorrer do jogo você precisa estudar cada momento, cada jogada, gesto, macetes e blefes de quem esta do outro lado.
Às vezes se ganha, às vezes se perde, mas a importante é saber jogar.
Será?
Tenho minhas dúvidas.
(...)
Aqui estou eu novamente.
De um lado o vento forte e seco do ventilador empoeirado. Do outro, o clique marcante e tenso do relógio de parede.
Será que vale a pena, estar aqui novamente, penso rápido.
Não, não vale a pena. Mas aqui estou.
Fleches assustadores visitam-me vez por outra.
Salas de aula, estradas infinitas, aquele degrau de escada e o copo de vinho. O banco da praça e aquela árvore exuberante e assustadora com suas raízes retornando pelo caule como alguém que tenta o suicídio sufocando-se.  
A luz da cidade por trás daquelas ondas batendo na areia da praia, eu também não consigo esquecer, esses são os fantasmas que me assombram.
Essa noite foi estranha. Caiu uma tempestade e logo após ela, depois da falta de luz, percebi um clarão invadindo a minha casa por baixo da porta. Era o clarão da lua, ela surgiu no meio das nuvens densas.
Tive um pesadelo horrível uma noite dessas. Meu edredom, no decorrer do sonho, se transformou em um demônio que me abraçava insistentemente e eu não conseguia abrir os olhos. 
Quando isso me acontece sempre acordo gritando. É assustador!
É, parece que não só aquele HOMEM, naquele momento e naquele lugar foi desamparado.
Às vezes eu também me sinto só. Em vários lugares.
Nem sempre neste jogo se deve segurar a carta mais valiosa para o final. Na verdade tem que saber a hora certa de abrir mão dela.
(...)




* “De Volta a Terra Dourada” é uma série de contos, onde eu mesclo fatos reais com realidade. É um lugar fictício que criei durante um tempo perturbador da minha vida, é onde minha mente sempre descansa. Durante esse tempo tive muitas experiências e a maioria delas não foram muito boas. Eu quase que diariamente escrevia esses contos e eram apesar de muito confusos, bem bonitos, às vezes meio assustadores e às vezes apaixonantes. Já faz alguns anos que não escrevo, e todos os que escrevi durante essa época se perderam. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

(*) De volta à terra dourada



“por Ele e para Ele são todas as coisas”

Caminhávamos juntos, de mãos dadas, curtindo o ar fresco daquela manhã. Eu e minha ansiedade. Vez por outra a delicadeza de suas mãos me deixava, e num surto, com seu cabelo ao vento, ela corria por aquela areia molhada deixando suas pegadas a minha frente, gritando bem alto:
 __Vem, quero ver se você consegue me pegar!
Foi quando me assustei com a aproximação das ondas.
Elas molharam os meus pés de uma forma estranha, convidando-me a um mergulho e fazendo-me esquecer tudo a minha volta, e depois de um bom tempo, fissurado ainda com as águas, além de, eu e ela. Notei outra presença.
__Eu poderia te mostrar uma coisa?
Disse àquela voz que a tempo eu não ouvia.
__Acho que foi por isso que viemos aqui não foi?
Respondi.
__Não procure um culpado, tanto Eu como você sabemos que gosta de vir neste lugar, e é sobre isso que precisamos conversar.
E então, Ele deixou que eu sentisse o calor de Seu abraço e, só nós dois, caminhamos até o alto das pedras onde as ondas chicoteavam a todo o momento.
 __Sente-se, preste bem atenção no que Eu vou lhe dizer. Olhe aquelas pessoas lá em baixo.
Olhei do lado contrario ao que viemos. Percebi que todas eram com eu, iguaiszinhas a mim, algumas sentadas e outras em pé caminhando de um lado para outro. E ao mesmo tempo em que eu tentava entender aquela cena, um sentimento de culpa tomou conta de mim. Então, notei que outra pessoa se aproximava de nós por detrás das pedras, e apenas com um singelo sinal, Ele a deixou ciente que precisávamos estar a sós. E aquele sentimento imediatamente me deixou. E comecei a ouvi-Lo.
__Todas elas filho, assim como você, gostam de vir até aqui. Este lugar é peculiar, aqui Eu posso ouvi-las melhor e todas elas vêm com o mesmo fardo que o seu. E às vezes assim como você hoje, chegam aqui acompanhadas, e traz sua ansiedade, sua inconstância, sua falta de personalidade, questionamentos, duvida e outros sentimentos. Aqui se encontra uma geração inteira amigo; saiba disso!
Uma forte onda dessa vez trombou as pedras fazendo com que alguns respingos chegassem a nós.
Sentei, pensei um pouco e Ele continuou...
__Filho, Eu estou aqui desde o início, acompanhando a mudança do tempo e das gerações. Vocês estão mudando precocemente garoto. E não percebem! O que gostaria que soubesse é que você é um filho nato desde século, enfermo pelas circunstâncias, inerte no tocante aos seus irmãos. Isso precisa mudar meu amigo. Eu preciso que volte aqui mais vezes, pra conversarmos, precisamos um do outro. Preciso que venha até aqui troque seu fardo comigo e volte, diga pros outros tudo o que Eu tenho lhe mostrado, neste lugar e na sua caminhada, e deixe-os vir até aqui também!
As lágrimas deram vez ao nó na garganta e senti quando Ele levantou-se e me deixou sozinho.
Desci surpreso. Sem palavras.
E caminhando ainda a beira mar, deixei a brisa acariciar o meu rosto perpetuando aquele momento...
___Oi, você está bem? O que houve? Desapareceu; fiquei preocupada!
Ela me disse.
__Chega! Por favor, saia!
__O que houve...?
__Eu não preciso te dar explicações, saia, me deixe em paz!
Corri desesperadamente pela areia...
Um sorriso espontâneo foi surgindo, e quando percebi, já estava com as águas pelas canelas.
__Eu preciso voltar! Eu preciso voltar...


Escrito ao som de Paul Clark – Songs From the Savior (Vol. 01)




* “De Volta a Terra Dourada” é uma série de contos, onde eu mesclo fatos reais com realidade. É um lugar fictício que criei durante um tempo perturbador da minha vida, é onde minha mente sempre descansa. Durante esse tempo tive muitas experiências e a maioria delas não foram muito boas. Eu quase que diariamente escrevia esses contos e eram apesar de muito confusos, bem bonitos, às vezes meio assustadores e às vezes apaixonantes. Já faz alguns anos que não escrevo, e todos os que escrevi durante essa época se perderam.
Hoje retorno a pôr em pratica. Não por estar passando por momentos difíceis novamente, pelo contrario. É simplesmente porque estes textos foram os mais sinceros que escrevi, são “lágrimas de ouro” se assim posso dizer. Desta vez quero deixa-los arquivados, quero dar uma nova percepção a eles, uma nova cara. Um outro olhar. Vamos ver onde eu posso chegar.