sexta-feira, 28 de junho de 2013

Entrevista com *Rafael. Feira Moderna Zine.

    
  Eu sou péssimo em gravar datas. Mas em um passado longínquo, (rs) quando por ventura me envolvi com o universo dos fanzines, e comecei a editar um pequeno fanzine chamado Manifesto, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas interessantes. Este pequeno fanzine se tornou o Grosso Calibre, um fanzine de proporções um pouco maior, mas com a mesma pegada. Recheado de resenhas, textos, indicações e claro, muita indignação. 
Foi exatamente neste período de muito tempo gasto com recortes, montagens e muito dinheiro gasto com xeroz que comecei a receber um grande número de cartas em minha residência interessados e trocar material. Foi assim que chegou em minhas mãos o Feira Moderna Zine, ou pelo menos o flyer do mesmo. Logo em seguida, em alguns shows já foi possível notar que seria possível uma aproximação com os idealistas do FMZ. Foi assim que conheci o Rafael, e a partir de então começamos a trocar algumas ideias bastante interessantes.
É com ele o bate papo que segue aqui no Contrapondo. Vamos conferir?
Caso tenha interesse em também prolongar esse contato. No final dessa troca de ideia você pode deixar a sua opinião ou entrar em contato conosco.
Fique a vontade. E boa leitura!


Rafael, vamos lá! Não tem como nós começarmos essa conversa sem lhe perguntar sobre o Feira Moderna Zine, esse sim merece uma pergunta de praxe. Há quanto tempo você está nessa correria e como faz ainda em tempos modernos de internet pra manter um trabalho tão tenso, e melhor, ainda com versão impressa?


Cara, o fanzine Feira Moderna Zina (FMZ) existe desde 2002. Começou num formato bem diferente deste que tem hoje. Como a maioria dos fanzines, xerocado e circulando com poucas cópias. Só a partir do número sete (se bem me lembro, entrando no terceiro ano) passamos a lançá-lo como um jornal. A questão da internet hoje soa muito mais clara pra mim do que há alguns anos atrás. O FMZ demorou muito para ter uma versão online da forma que deveria; com atualizações constantes e tudo o mais. Levou certo tempo pra cair a ficha que a versão impressa precisava de uma versão online, e, creio eu, que o contrário também. Uma versão dá sustentação, visibilidade à outra. Embora a versão impressa ainda seja a 'principal'.




Confesso que a cada número impresso que lançamos, sentimos que a coisa vai ficando mais complicada. E isso em todos os aspectos: os custos, a gráfica, enfim. Anunciante hoje em dia é muito mais difícil. Mesmo as trocas de anuncio por materiais (que já não eram o ideal pra nós, mesmo no começo), hoje soam ainda mais inviáveis. Já que as vendas de materiais em shows diminuíram muito. O jeito é manter com nossos próprios recursos. E vida que segue. Mas, pra nós, a satisfação de ver mais um número pronto, circulando, compensa sem a menor sombra de dúvidas.


Como você faz pra manter todas as informações? Haja vista que pelo menos hoje, só vejo você como representante do FMZ nos eventos, se não estou enganado. E as matérias sempre são legais, como se você estivesse o tempo todo ligado nos eventos. Coisa quase impossível! (rs)


Hoje no FMZ somos dois. Eu e o Rodolfo Caravana, que participa da versão impressa com uma coluna e chegando junto comigo nos custos. A versão online, onde rolam as notas, matérias de shows e tudo mais, ficam por minha conta. Com exceção de uma ou outra entrevista, as poesias e algumas coisas que recebemos de colaboradores, como você por exemplo. Estar presente nos shows e eventos também é por minha conta. Gosto realmente de escrever sobre música, dar opinião, me expressar. Não encaro como um trabalho, ou algo penoso, sabe lá. Basta conseguir organizar o tempo e dormir um pouco menos às vezes (é preciso ganhar a vida) que é tranquilo. Claro, ir pra rua com a banquinha e estar nos shows são, sem dúvida, a melhor parte. E mesmo que não houvesse o FMZ, creio que estaria frequentando os mesmos lugares. Talvez carregando menos peso, mas indo aos mesmos lugares. (rs)

Sinceramente, não me imagino fazendo outra coisa, frequentando outro meio. O underground é a causa que escolhi. A única coisa na qual acredito hoje é em arte e cultura (ou contracultura, como queiram) como ferramenta de mudanças. Não acredito em militância partidária, na classe política. Encaro o Estado como inimigo, agente repressor, limitador do indivíduo, e duvido das intenções de qualquer grêmio, união dos estudantes disso ou daquilo, ou, seja lá o que for. Logo, minha forma de militância, de fazer política, de interferir, protestar é minha atuação no meio underground. Sendo assim, não tem como o trabalho não soar prazeroso ao extremo! 


Legal. E já que tocamos no assunto, "underground / contracultura". O que isso significa realmente pra você? Acredito que quando menciona, por exemplo, "O underground é a causa que escolhi." Você ainda tem muita coisa pra dizer. Então, desenrola isso pra gente!


Acredito realmente no poder transformador da arte, da música. Tenho certeza que se não tivesse, num dado momento de minha vida, esbarrado em fanzines, determinadas bandas, discos e livros minha vida teria tomado um rumo muito diferente, e eu seria outra pessoa. De alguma forma, prefiro que tenha sido assim.

Entendo que cada cidadão tem um papel importantíssimo na construção de nossa sociedade. Assumir esse papel ou não, é escolha de cada um. Estou falando do cotidiano, do dia a dia, das pequenas atitudes e posturas adotadas. Há diversas formas de interferir no espaço, no todo no qual estamos inseridos. Mesmo o sujeito que exerce seu ofício, sua profissão de forma honesta, correta, está de alguma forma contribuindo. Alguns vão além, optam por determinados tipos de militância, enfim. E, ao menos eu, encontrei a forma de me expressar e participar, agir, interferir através do meio underground. Foi onde tive contato com ideias que condiziam com a forma como eu me sentia (e ainda me sinto) perante o mundo e ferramentas para expressá-las. Seja tocando, escrevendo, produzindo, divulgando, não importa. Estou difundindo cultura, informação, trocando ideias. É a forma como deixo claro para o mundo que existo e que penso. 


Dentre estes anos de caminhada com o FMZ, qual foi a parceria que você mais considera relevante dentro de todos estes aspectos colocados quanto a underground / militância, e ou, até mesmo só em termos de cultura?


Essa pergunta é difícil! (rs) 
Logo quando o fanzine começou, os primeiros anunciantes foram fundamentais. Por causa deles surgiu a Latitude Zero Distro. (por falta de grana, era bem comum a galera das distros trocar anúncios por CDs; daí comecei a montar banquinha nos shows, pra tentar transformar os 'pagamentos' pelos anúncios em grana viva!) e vimos que era possível 'crescer', mudar o formato, ir pro jornal e aumentar a distribuição. Da mesma forma, a galera da correspondência, da troca de cartas, fanzines e flyers também foi fundamental para espalhar o nome do FMZ. 

Tem também a galera que, assim como eu e outros aqui pelo Rio de Janeiro, monta as banquinhas nos shows. Por mais que a galera de fanzine curta a coisa da troca de correspondências, nada substitui o contato direto, pessoal. É diferente você entregar e/ou receber um fanzine num show. Estar em contato com quem vai ler o material que você produz e sentir a reação.

De qualquer forma, foram muitos parceiros ao longo do tempo. Tanto no FMZ quanto nos outros projetos, inclusive produção de shows. E por mais que pareça clichê, acho que se aplica o mesmo que defendo com relação ao meio underground como um todo: todas as peças da engrenagem são importantes, fundamentais. O cara que pegava um flyer nosso e colocava dentro de uma carta e mandava junto com um fanzine pra um contato dele não faz ideia do quanto contribuiu. O mesmo valendo pro sujeito que foi num show e pegou uma cópia do fanzine numa banquinha.


Rafael, você acha que a galera hoje mudou muito? Por exemplo, no auge dos fanzines no passado, como na época em que eu editava o Grosso Calibre que se tornou o Contrapondo, eu chegava a receber quase dez cartaz por dia. Um absurdo! E tudo nesse "nype" como você mencionou, as vezes poucas palavras, mas muitos contatos para retorno. Na verdade, a minha pergunta é a seguinte. Qual a diferença notada hoje para os que são leitores do FMZ, dos frequentadores dos shows e dos que pegam contigo o zine pra leitura? Vou até ser um pouco pedante, mas você acha que a molecada hoje sabe a importância de um fanzine na cena?


Temos que levar em consideração que a forma como se consome cultura, de modo geral, hoje é muito diferente de dez, quinze anos atrás. E isso se reflete no meio underground. É inevitável. Hoje as coisas estão muito mais simples. Um clique e você tem uma discografia inteira de uma banda 'lado b' no seu computador ou celular! Não dá pra querer que o cara que já encontrou o cenário com todos esses dispositivos e 'facilidades' à disposição se relacione com uma banda, fanzine ou com determinado gênero musical da mesma forma que a gente que camuflou grana em papel carbono na carta pra comprar demo, que esperou meses por um fanzine, tomou volta de espertinho, ou coisa parecida.


Mas ainda acho que tem, sim, uma garotada tão interessada no meio underground quanto nós. É claro que a quantidade de fanzines impressos diminuiu, mas vira e mexe recebo materiais! Tem mostras rolando por aí, enfim. Vez por outra dou de cara com uma molecada que só conhece e-zine! Ficam espantados com o fato de ainda haverem fanzines impressos. E gostam, trocam contato, acompanham. E ainda surgem novos fanzines por aí! Parece-me que, talvez, seja dever nosso (os mais cascudos) encontrar formas de não deixar certos valores se perderem. Demos lançadas no formato físico, bandas iniciantes, fanzines impressos e por aí vai, tudo isso merece ser valorizado. E as pessoas envolvidas, idem! 


Vamos aproveitar esse momento histórico que vivemos hoje aqui no Brasil e falar um pouco de política? Qual é a sua perspectiva sobre os últimos acontecimentos, os protestos, a possibilidade de mudanças e os ataques aos órgãos públicos? Ou você assim como eu, apesar de ter esperança, sente um "cheiro estranho" de apenas euforia?

Bom. Vamos lá!



Cara há muito tempo que nós, envolvidos com o meio underground, cobramos essa coisa de ir pra rua, protestar, e se fazer ouvir, sair da 'zona de conforto', enfim... Acho ótimo que uma parcela da sociedade esteja fazendo isso. Confesso que desde o começo olhei a coisa toda com muita desconfiança, e até o momento permaneço assim: desconfiado. Tem gente por aí que é mestre em manipular opinião pública, e não me refiro apenas aos meios de comunicação. Espalham discursos e teorias das mais absurdas em redes sociais e afins... e fazem parecer a coia mais normal do mundo... Ainda assim me soa extremamente válido.

Mas creio que tão importante quanto a manifestação em si, é a forma como toda essa discussão irá, de fato, influenciar o dia a dia de cada um. É fundamental que todo esse surto de politização afete o cotidiano, os pequenos atos e posturas do cidadão. Ano que vem teremos eleições. E, minha desconfiança, passa justamente por esse 'cheiro estranho de euforia’ que você citou. Será que, menos até que os protestos em si, mas a discussão e toda essa indignação estarão presentes na hora de votar? Será que dura até lá?

Com relação aos atos: mesmo com os dois pés atrás; estive presente em dois deles aqui em Niterói. Mas acompanhar mesmo, até o final, apenas o segundo. Queria ver com meus próprios olhos e tirar algumas dúvidas. De fato, as reivindicações diziam respeito à coisas que também me afetam como cidadão (à grande maioria de nós, na verdade). Também ficou claro que os tais atos de vandalismo são praticados por grupos organizados (e que sabem bem o que estão fazendo). Não parte do cidadão de uma forma geral (o que seria plenamente justificável, dado o ponto que as coisas chegaram aqui no Brasil). Pude perceber isso aqui em Niterói, onde também houve confronto com a Polícia. Porém, após o ato em si, numa outra situação. (pra mim ficou bem claro isso)

A ação da PM não me surpreende e não deveria surpreender ninguém. Sempre agiram da mesma forma. Só quem nunca tomou uma dura na madrugada se espanta. Só que é um problema que vem desde que a PM existe. Seguem ordens que partem de seus respectivos governadores. E sequer passa pela cabeça de algum deles não fazê-lo. Com relação aos veículos de imprensa: a mesma coisa. Sempre agiram da forma que estão agindo, só que agora, com as mídias digitais e o acesso rápido e fácil à informação, assim, coisa ficou exposta, virou flagrante.

Quanto à tomada de prédios públicos: é simbólico, faz parte. É patrimônio do cidadão e, se é do desejo do cidadão ocupar o que é seu, que seja feito. Só acho que seria bacana que o povo, pra valer, estivesse presente nesses locais no dia a dia, cobrando de seus eleitos, seus funcionários, o que é obrigação deles fazer. Já seria um passo adiante e em tanto.

Outro ponto: Acho ótimo que haja rejeição às bandeiras de partidos, sindicatos, ou, seja lá o que for. A insatisfação é com o poder público, a classe política como um todo. Obviamente os partidos políticos estariam incluídos. São, parte de tudo isso. E também é de se esperar que os militantes partidários joguem 'cascas de banana' pro discurso dos 'apartidários'. De alguma forma, sentiram que 'ficaram de fora da festa' é ruim. Evocam a democracia para justificar a presença de suas bandeiras, mas no fundo são justamente essas bandeiras e siglas que atentam contra a democracia quando deixam os interesses do cidadão que os elege de lado e trabalham em benefício próprio. É justo negar a participação partidária quando as reclamações envolvem, inclusive, os próprios partidos.

E por mais que eu seja chegado a uma ‘teoria da conspiração’, ainda não dei de cara com nenhuma relacionada a tudo que tem acontecido que me convencesse. Pelo menos nada que desague num golpe militar ou coisa parecida. 

Enfim. Acho válido tudo que tem acontecido. Mas chego ao mesmo ponto que você. Fico me perguntando se isso tudo influenciará o dia a dia do cidadão e durará até as eleições. Aí sim, creio que algo realmente transformador possa vir a acontecer.


Seguindo a vibe, tenho me organizado com alguns amigos para incentivar o boicote, é a única manifestação pacífica que acredito. E como você mencionou, acredito também que alguns confrontos seriam inevitáveis, pois essa polícia corrupta e nojenta que mais dá medo do que os próprios ladrões, sempre foi o carrasco de quem gosta de curtir uma madrugada. Quando menciono o boicote, acredito que o mesmo pode ir mais além do que as eleições. Você concorda comigo?


Sim. Com certeza! A ideia me agrada imensamente. É uma forma ainda mais eficaz de não só manifestar a indignação, mas deixá-la registrada, impressa na história política do país. Na verdade, creio que o grande lance é deixar claro que pronunciamentos, pactos, medidas 'emergenciais' ou qualquer outra coisa do gênero não resolvem a questão. O problema é mais profundo. E isso passa, inclusive, pela questão dos partidos nas manifestações: não se trata de rejeição a partidos de esquerda ou direita. As pessoas estão insatisfeitas com a atuação dessas entidades de uma forma geral, não importa o posicionamento. Sempre entendi que se determinada empresa não presta um serviço satisfatório, não devo fazer uso de seus serviços. É a forma de deixar a insatisfação clara. Se o problema é com a classe política, que não lhes sejam dados nossos votos! É o que os sustenta! É bater onde dói!

Ainda sobre eleições: Não posso encarar como democrático um processo do qual sou obrigado a participar. O voto me parece ser a arma mais valiosa para exercermos nossa cidadania, mas a obrigatoriedade, a meu ver, tira todo o sentido da coisa. Desde que comecei a votar defendo o voto nulo como a única forma de manifestar insatisfação que o Estado me dá em uma eleição. Não aceito o discurso do “quem vota nulo não pode reclamar, está se anulando, abrindo mão de participar” Pra mim soa ao contrário! As pessoas que conheço que como eu anulam seus votos, me parecem ser as que mais se importam! As que já procuravam formas de manifestar sua indignação muito antes dessa garotada resolver ir pra rua. Insisto que acho válido tudo isso. Mas também entendo que nem o governo, nem a oposição querem (nem vão) de fato tocar em pontos que provoquem mudanças profundas. O voto obrigatório seria uma delas, no meu ponto de vista. E independente do que aconteça daqui pra frente, continuaremos no meio da briga deles por poder. E aí, as eleições do ano que seriam, sim, a hora de manifestar a indignação da forma mais contundente possível. 


Existe um espaço dentro do FMZ que trata diretamente destes assuntos, política / filosofia de vida, ou isso acaba refletindo naturalmente nos outros conteúdos? Você acha que um manifesto, impresso, distribuído em shows ainda pode fazer alguma diferença quanto a isso?


Sim, as colunas e artigos em ambas as versões do fanzine apontam quase sempre para assuntos distantes do universo musical, salvo uma ou outra exceção. As poesias, na versão online (no próximo número impresso vou tentar dar mais espaço para os poetas, inclusive), são outro exemplo. Acho muito difícil falar de arte sem, necessariamente, tocar em aspectos comuns à vida cotidiana. Já que a arte acaba sendo reflexo do que as pessoas vivem, de uma forma ou de outra.

Com relação a um manifesto, ou qualquer outra ferramenta que traga as pessoas envolvidas com o cenário underground para discussões envolvendo temas, aparentemente, alheios ao meio: são extremamente válidos. Vou me apropriar de um depoimento do Bolinho da banda Kopos Sujus, publicado recentemente em um grupo no Facebook: Ele colocava a necessidade de trazer para o meio underground a discussão de temas relacionados ao cotidiano, política, e cidadania por exemplo. Ele frisou, inclusive, o fato de não ser algo que precise aparecer obrigatoriamente nas letras das bandas, já que nossa atitude em participar do meio underground já é uma atitude política por natureza. Aliás, no que concordo plenamente com ele.

É importantíssimo, principalmente pra galera mais nova, sentir que o meio underground também pode ser um caminho para exercermos nossa cidadania. Afinal, estamos ali produzindo e consumindo cultura. Não a cultura imposta por grandes veículos de comunicação. Não a cultura ou o discurso da direita ou da esquerda, necessariamente. Mas, talvez, um novo olhar, outra forma de enxergar e compreender as coisas, diferente da grande maioria, independente. Por que não aproveitar isso? Creio que muitos dos assuntos levantados nas manifestações e protestos poderiam contribuir muito com esse processo de discussão, debate, troca de ideias e, quem sabe, mais pra frente não surjam novos fanzines, informativos, manifestos ou qualquer coisa do tipo, fruto de tudo isso? Já temos os espaços e o ambiente propício para algo nesse sentido acontecer. Você não acha? 


Com certeza Rafael, temos o espaço sim! E esta posição de achar que podemos dar muito mais do que apenas expomos nas letras de nossas canções já é algo que venho batendo com força em quase todas as minhas colocações. Isso é de suma importância. Ainda mais em momentos como o atual, de manifestações em nosso país.

Bom meu caro, nossa conversa foi bastante satisfatória. Como os interessados em criar uma parceria com o FMZ podem estar fazendo e o que você deixa pra gente de interessante para lermos, aproveitando mais uma vez nosso momento político, que possa talvez nos deixar com uma visão um pouco melhor para o futuro?


Maravilha! Valeu pelo espaço e pelo papo, meu camarada! Quem quiser fazer contato é só mandar e-mail (latitudezeroprod@yahoo.com.br)! Pode demorar de vez em quando, mas faço o possível para dar retorno a todos. O FMZ está aberto a quem quiser colaborar, participar, seja lá de que forma for! Parcerias são sempre muito bem vindas! E antes de encerrar, vou bater na mesma tecla: o momento é propício, temos tudo pra fazer de nosso 'mundinho under' bem mais que o show no final de semana, a camisa de banda ou a pose pra foto no Facebook... Acho difícil que alguém consiga dizer, com certeza, no que tudo isso que vem rolando vai resultar. Pode, inclusive, não dar em nada... De qualquer forma, entramos num momento importante de discussão, debate e 'politização' que (mesmo duvidando de engajamento/militância 'instantâneos') pode render muita coisa interessante.

Minhas dicas de leitura? Vou tentar não fugir muito de temas e coisas que tratamos em nosso papo, ok?


“1984” (George Orwell) – Fundamental!!!

“A Revolução dos Bichos” (George Orwell) – Fundamental!!!

“O Castelo” (Franz Kafka) – Fundamental!!!

“O Processo” (Franz Kafka) – Idem...rsrsrs!!!

“O Que é Anarquismo” (Caio Tulio Costa)

“Punk: Anarquia Planetária e A Cena Brasileira” (Silvio Essinger)

“A Onda Maldita: Como Nasceu e Quem Assassinou a Fluminense FM” (Luiz Antônio Mello)

“Niterói Rock Underground: 1990-2010” (Pedro de Luna)

Peço licença pra enfiar um doc. na lista, tudo bem?

“Fanzineiros do Século Passado – Volumes I, II e III” (Marcio Sno) - Os três números são incríveis! Vale muito a pena!




Latitude Zero Prod.
Puplicações: Feira Moderna Zine / Consciente Coletivo Zine

Artistas:
Inércia
Projeto Mosquitos
Rafael A.
Xarles Xavier

Eventos: Festival Barulhada! : FMZ Apresenta: Narcose Rock Clube : Rock na Garagem : Go Girls Rock Fest. : Mostra EDITAR de Publc. Indp.

Shows & Press:
(21)8341-4888 ou latitudezeroprod@yahoo.com.br (Rafael)


sexta-feira, 14 de junho de 2013

A ARTE DE NÃO ADOECER

Por Dr. Draúzio Varella

Se não quiser adoecer – “Fale de seus sentimentos”.
Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna… Com o tempo arepressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar,confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados. O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia..

Se não quiser adoecer – “Tome decisão”
A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer – “Busque soluções”
Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer – “Não viva de aparências”
Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso… uma estátua de bronze, mas com pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se não quiser adoecer – “Aceite-se”
A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos,destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

Se não quiser adoecer – “Confie”
Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

Se não quiser adoecer – “Não viva sempre triste”
O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. “O bom humor nos salva das mãos do doutor”. Alegria é saúde e terapia. “


Texto publicado no site do Ed René Kivitz

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Entrevista com Allan – Na Espinha Produções.

    Bom galera, pra dar seguimento a nossas conversas e como eu já havia dito antes. Não estou direcionando as conversas somente com integrantes de bandas. A ideia aqui é realmente criar parceria e dividir conhecimento.
Uma boa galera já conhece o Allan, e pra quem não conhece ainda, segue ae nossa conversa.
Divirtam-se na leitura e façam amizades!


1) Allan, para nós que somos envolvidos com o underground, sabemos que montar uma banda é complicado, realizar eventos é mais ainda. Gostaria que você explanasse pra gente quase que de uma forma "jornalística" como que você começou; os prós e contra, e quando foi que você viu que essa era a sua pegada, organizar shows? 

Eu sou Mineiro. E desde os meus 13 anos que sou envolvido com o Rock/Underground algo que me foi apresentado pelo meu irmão mais velho. Nessa época eu morava em uma pequena cidade em Minas Gerais e consequentemente havia também uma pequena cena underground por lá. Nessa cena o pessoal era meio ‘‘Headbanger’’. Hoje carinhosamente chamados de “Chuta Lixo”. (rs) Então não era uma galera presa a movimentos (apesar de existirem alguns como os punks o pessoal que curtia metal e os mais radicais do Black Metal) e o fato de se ouvir ''de tudo'' me fez conhecer muita coisa o que foi bom pra eu poder ter minhas preferências, algo que seria bem limitado se eu tivesse me prendido a rótulos, movimentos ou bandeiras.
Nessa época tive algumas bandas, mas que não chegaram a ter muita ou nenhuma repercussão e na verdade acho que essa nunca foi a intenção, nossa intenção era apenas continuar fazendo algo dentro da cena e era uma coisa mais pra nós mesmos, se vingasse, legal, se não, tudo bem, a ideia era nos divertir, algo que vejo faltar em algumas bandas hoje em dia, se preocupam muito em fazer algo que vá agradar aos outros e se esquecem de fazer algo pra eles mesmos e acabam não se divertindo. Acredito muito que quando se faz algo em primeiro lugar pra você e faz bem feito, consequentemente você irá agradar a alguém ou no mínimo conseguir o respeito pelo seu trabalho.
Em 1998 me mudei de MG pra Região dos Lagos e devido essa transição fiquei meio ''fora de cena'' até 2000/2001 e conhecer alguns amigos na Região que ouviam mais ou menos as mesmas coisas que eu e gostavam de se divertir. E entre alguns copos de cervejas e comparecendo a alguns eventos que ainda existiam em Cabo Frio, (na época organizados pela galera da Solstício) tivemos a ideia de também tentar fazer algo na Região. Em 2003 surgiu a NA ESPINHA PRODUÇÕES e éramos eu e mais 3 amigos e por esses amigos morarem em Iguaba optamos por fazer os eventos nessa cidade.
Mas não tínhamos nenhuma ideia de como fazer, nunca tínhamos organizado nada, mas acreditamos e começamos a fazer. A única coisa que tínhamos certeza era que faríamos algo pra todo mundo, nada voltado pra um ''estilo'' era pra ser algo realmente Underground onde todos pudessem curtir uma banda do seu ''estilo'', conhecer outros sons e se divertir. E por haver essa ''mistura'' em nossos eventos tivemos uma boa aceitação, sempre com um bom público e conseguimos colocar Iguaba na rota de algumas bandas que estavam se destacando na época e assim rolou até 2006.
Neste mesmo ano as três pessoas que estavam na correria comigo, por mudanças na vida pessoal decidiram parar e seguir outros caminhos, mas eu optei em continuar, e organizar eventos se tornou algo essencial pra mim, pois com isso pude conhecer muita banda, ter muitas histórias e principalmente fiz muitas amizades, algumas que preservo até hoje e acredito que serão eternas.
De 2006 a 2008 os eventos ficaram parados e em 2008 voltei a fazer sozinho em São Pedro da Aldeia no local onde acabou ficando conhecido como Casa da Colina. Os eventos ainda rolam até hoje, mas estamos vivendo em outros tempos, tempos esses em que (acredito eu) a essência do Underground não é mais a mesma, onde cada vez mais se existe uma ''separação'' por estilos (algo que eu acho extremamente desnecessário) e com essa separação cada vez mais as pessoas deixam de ir aos eventos, acho que todo mundo tem o direito de ouvir o que gosta, mas acho que isso não te impede de conhecer outras coisas. E no caso do meu evento que vai completar 10 anos agora em Agosto e nunca ter tido um patrocínio, dependo muito que a galera compareça pra continuar mantendo o evento e poder trazer bandas de outras cidades e estados pra continuar tentando promover essa interação entre as cenas e a integração de bandas também. Realmente está cada vez mais difícil manter um evento com uma estrutura no mínimo honesta, sempre tem pessoas que reclamam que procuram algum defeito pra usar como desculpa pra não comparecer ao invés de tentar fazer alguma coisa, bandas que se dizem Underground, mas querem cobrar e ter uma postura como se vivessem no Mainstream, (todo mundo tem o direito de cobrar o valor que acha justo pelo seu trabalho, mas só acho que não se pode esquecer de onde se veio e perder noção e humildade) entre outros fatores que se eu realmente não vivesse, gostasse ou acreditasse no Underground já teria parado de fazer eventos ha muito tempo.
Mas felizmente, ainda existem pessoas e bandas sinceras, que jogam limpo e acreditam no que fazem independente de ''estilos'' e isso faz com que eu siga nessa correria. Não acredito em rótulos, movimentos e bandeiras, pra mim isso gera radicalismo e todo radicalismo gera preconceitos e não curto isso. Acredito na música, no Rock e principalmente no Underground com sua boa essência de amizade, superação e respeito e isso pra mim está a cima de qualquer ''estilo''.

2 ) Legal, é bom saber desse histórico. Agora, essa questão de segregação na cena. Ninguém consegue explicar, parece que de qualquer forma isso iria acontecer. Temos que tentar um estudo mais profundo pra descobrir, será? (rs). E quanto sobre as bandas cobrarem, acredito também que de qualquer forma chegaríamos a isso. Há um gasto, um desgaste, e um tempo "perdido" pra se ter uma banda e fazer algo que gosta. Claro, todos tem que ter um bom senso. Você ainda não conseguiu um bom apoio comercial para os seus eventos e não pensou em torna-los algo ainda maior. Porque querendo ou não você já tem uma moral e como você mesmo disse. A Casa Da Colina já se tornou um lugar aonde qualquer banda que venha tocar no Rio de Janeiro, merece passar por lá. Você não acha?

Quanto a esse lance de segregação é algo que sempre aconteceu e infelizmente sempre vai acontecer, só acho isso uma atitude extremamente desnecessária e incompatível com a minha visão do que é o Underground. Não sou dono da razão como ninguém é, apenas vejo o Underground como uma forma das pessoas e bandas se apoiarem, lutarem juntos por algo em que acreditam e essa união pode e deve existir acima de qualquer ''estilo'', havendo um mínimo de respeito das bandas e do publico pela correria um do outro acredito sim que da pra manter uma cena bem mais sólida do que essa em que vivemos.
Quanto as bandas cobrarem acho justo, pois realmente se tem um gasto financeiro e todo um investimento em cima disso pra que sua banda se profissionalize e todos tem o direito de cobrar o que acham justo pelo seu trabalho, mas em certos casos precisa se ter um pouco de bom senso sim. Acho que há eventos e eventos, casos e casos, e em certos casos algumas bandas precisam lembrar de onde vieram e valorizar um pouco mais da essência do Underground que pra mim ainda é de ajuda, união e acima de tudo respeito. 
Esse lance de patrocínio sempre foi complicado nos meus eventos, em quase 10 anos nunca conseguimos uma ajuda concreta e em poucas vezes que achei que tinha conseguido, furaram comigo em cima da hora o que causou um grande constrangimento em relação aos compromisso que assumi contando com essa ajuda e com isso um inevitável prejuízo. Seria bom ter algum tipo de ajuda que pudesse melhorar a estrutura do evento e com isso poder trazer bandas de lugares mais distantes que daria uma boa repercussão. Mas rolando ou não alguma ajuda uma coisa que não penso em mudar nos eventos é o lance de ser focado no Underground mesmo, do ''Do it YourSelf'' e poder fazer com que bandas que estejam começando possam ter a oportunidade de mostrar seu trabalho e que haja uma interação e integração com as bandas e pessoas que já estão nessa correria a mais tempo.

3) Alan, por mais que essa pegada seja mesmo nossa. Você não acha que talvez esse seja nosso maior erro, focar somente o Underground? Tudo bem eu entendo isso. Mas o Underground também pode ser um bom trampolim para alcançarmos lugares mais altos, você não acha? Haja vista que muitas bandas que talvez passem ou já passaram por essa fase alcançaram grande status. E vamos ser sinceros. Todo mundo que se envolve com música quer viver dela. Você não?

Sim, também concordo que o objetivo de quem se envolve com música é viver de música. E o underground pode ser sim um trampolim pra se alcançar outros lugares e expandir horizontes, mas acredito que há formas e formas de se correr atrás desse ''sonho''. Não tenho nada com vida de ninguém, cada um é livre pra fazer suas próprias escolhas e acho que essa é a ideia: "SER LIVRE'', desde o momento que você deixa de ser livre em suas escolhas e atitudes em prol de um suposto sucesso acredito que você nunca se sentirá realizado. Todo mundo espera um reconhecimento pelo seu trabalho, mas isso pra mim é algo que vem como consequência de um bom trabalho, se você realmente vive e gosta do que faz, acredito que sua hora um dia chega. Vejo muita banda começando a tocar ou mudando pra um estilo que não curtem só pra tentar conseguir um suposto sucesso, pode ser que seja válido pra alguns, mas pra mim isso é meio que se prostituir. Visto que existem algumas bandas que já passaram pelo Underground, conseguem fazer seus shows, fazem com uma certa frequência suas turnês nacionais e internacionais, conseguem viver do que fazem sem precisar se ''vender'' à uma mídia apelativa pra isso.

4) Particularmente eu ainda acho que existe uma grande "nuvem negra" sobre esse assunto, e as coisas ainda não melhoram para nós por falta de sabedoria. Um exemplo é acreditar que você pode muito bem começar com showzinho, deixar bem claro para todos que sua visão é tornar aquilo maior e quem sabe um dia você tem um espaço seu, equipamento seu, tudo muito bem estruturado e ainda sim continuar dando o apoio que todos merecem. Alugar o espaço para outros dias de apresentações diversas, festas e qualquer outro tipo de coisa e com isso ter capital financeiro pra fazer belos shows com bandas maravilhosas, dentro do que você sempre sonhou e com viabilidade pra todo mundo. Se não, dessa forma, viver o underground pode se tornar uma religião. E isso realmente é catastrófico você não acha?

Concordo com o que você disse em sua pergunta, quando eu digo que quero manter o underground me refiro a não perder essa ''essência'' de meter a cara e fazer, de ajudar e ser ajudado quando for preciso, da amizade e respeito. Claro que não serei hipócrita de dizer que ter uma boa estrutura e viver disso não seria bom, claro que seria bom. Poder viver do que eu gosto e com isso melhorar o suporte da cena em que vivo seria ótimo. 

5) Além dos eventos e da produtora o que mais você tem feito? Se não me engano você estava sustentando um site com algumas informações sobre a cena e fazendo alguns trabalhos de designer pra algumas bandas correto? Explana isso pra gente.

Isso. Esse site infelizmente eu tive que abandonar, já tem algum tempo que não o atualizo mais. Mas atualmente além dos eventos divido meu tempo entre duas coisas, Tatuar e Designer Gráfico. Tatuagem eu já trabalho com isso há uns onze anos e Designer ainda estou engatinhando pra poder melhorar cada vez mais, mas o Designer tem ocupado mais o meu tempo, apesar de ter pouco tempo que estou me dedicando a isso, tenho tido uma procura legal por partes das bandas e felizmente já fui chamado pra trabalhar com algumas bandas legais da nossa cena como: Fokismo, Protesto Suburbano, Uzômi, Liberpensulo, 52x, Comando Delta e atualmente tenho feito uns trabalhos seguidos pra banda Las Calles, além de outras bandas também. Espero poder melhorar cada vez mais nesse trabalho e com isso poder trabalhar cada vez mais com mais bandas legais que existem por ai. Esse novo trabalho, além de ser algo que gosto e estou me dedicando acaba sendo também mais uma forma de me manter ativo na cena.

6) Como funciona o esquema da Casa Da Colina? O espaço é alugado? Como surgiu a oportunidade de estar realizando?

A Casa da Colina me foi apresentada no final de 2007 (se não me engano) e foi em uma época em que os eventos estavam parados pelo fato dos outros organizadores que fundaram a Na Espinha terem seguido outros caminhos e eu ter voltado a morar na Região após ter morado um período em Juiz de Fora. E quando conheci o local logo me veio à cabeça que ali daria um ótimo lugar para um evento. De início o local parece ser de difícil acesso e meio estranho por ser uma casa particular onde o próprio dono ainda mora com sua família, mas depois de subir, todas as bandas de outros estados e locais que passaram pelo evento sempre elogiam o local pelo visual que se tem lá de cima e pela casa ter um aspecto meio rústico.
Em 2008 comecei fazer os eventos na casa e duraram até meados de 2009, pois nessa época fui morar no Rio (Capital) e os eventos na Colina deram uma parada até meados 2011 quando retornei à Região e retomei a correria na Casa da Colina que aos trancos e barrancos continua até esse momento.
Quanto ao esquema do lugar, já fiz alguns esquemas com o dono do local algumas vezes. Mas hoje pelo tempo que já faço os eventos lá não pago um preço fixo à ele, isso varia de acordo com o evento, se o evento for bom, dou uma ajuda maior, se for caído dou uma ajuda menor ou deixo pra dar essa ajuda no próximo evento pois sempre espero que o próximo será melhor. Pois apesar dos prejuízos e alguns problemas que sempre vão existir ainda mantenho certo otimismo e uma esperança de que a cena um dia irá se solidificar totalmente.

7) Muito bom isso. Encontrar um lugar onde você possa criar essa facilidade com o proprietário realmente é o sonho de todos. E quanto ao lugar realmente é impressionante. Lembro-me de uma das vezes que toquei no local e logo na subida da ladeira onde leva até a casa encontramos um pessoal descendo. Os caras estavam a caráter, roupões pretos, cara pintada e Spike que mais pareciam espadas! (rs). O pessoal que estávamos levando ficou horrorizado. (rs).

Muita gente não sabe, mas organizar evento ainda é mais complicado do que se ter uma banda em si. Aprendi na marra que lidar com músico é complicado. Já houve algum caso que você pensou em nunca mais chamar determinada banda por algum problema? Nós já sabemos que ainda tem o problema de agenda, divulgação, essas coisas. Conta pra gente algum episódio lastimável que aconteceu com alguma banda. Não precisa dar nome aos bois. Mas se o fizer é bom que a gente mata o boi e come assado! (rs)
É. Essa ''facilidade'' que tenho na Casa da Colina é algo que ajuda muito sim. Mas isso só veio a acontecer depois de batalhar alguns anos e sei bem como é a correria e o prejuízo que se tem quando se precisa alugar um espaço, pois o proprietário nunca vai entender quando seu evento não fica bom, ele quer receber e pronto. Mas negócios são negócios.
Quanto a essa relação com os músicos, até que sempre tive a sorte de trabalhar com pessoas legais e responsáveis. Mas claro que sempre existem alguns que “cagam a porra toda” (rs). E o que realmente me deixa puto é uma banda cancelar comigo um dia antes ou no dia do evento (coisa que acontece com certa frequência), entendo que imprevistos acontecem, mas as desculpas usadas nunca são convincentes, a banda cancela dizendo que é por problemas pessoais e depois você descobre que a banda não veio porque algum integrante esqueceu o show e marcou uma festinha no mesmo dia em alguma ''boate'' com os amiguinhos da Faculdade. Porra! Se não quer tocar não monte banda e nem marque shows, só isso.
Uma situação que me incomodou muito foi uma situação de eu ter chamado uma banda e o horário deles seria o último (pois tinha uma galera que só iria pra vê-los) eles aceitaram o horário e no dia evento todos da banda chegaram, viram alguns shows e por uma ''viadagem'' que ainda não sei qual foi, de repente vieram dizer que não iriam tocar mais porque eles seriam a ultima banda e foram embora. O cara tratou comigo uma coisa e depois que eu divulgo tudo, chega uma galera pra vê-los, os cara surtam e não tocam mais. Pra mim é viadagem isso! E depois coube à mim ficar dando explicações do por que a banda não ter tocado pra galera que queria vê-los. 
Nesse caso realmente a banda sabia do seu horário e foram uns “FDP” mesmo, mas existem casos que realmente acontecem imprevistos no evento como atrasos ou mudança na ordem em cima da hora. Isso é chato? Claro que é! Mas acho que se você já se propôs a sair de casa pra outra cidade, pegar estrada, pedágios e todos os perrengues de uma viagem, é porque você realmente quer tocar. E pra quem tá nessa vida underground sabe que alguns imprevistos podem acontecer em cima da hora e não entendo bandas que depois de já estarem no local do show resolvem ir embora sem tocar, não vejo lógica nisso. Acho que mesmo que se fique puto com qualquer imprevisto que possa ter acontecido, que toque PUTO DA VIDA, mas que toque!

8) Bom Allan, uma coisa eu posso afirmar, "viadagem" e “FDP” tem em tudo quanto é lugar! (rs)
Então, como eu disse no inicio das perguntas, a Casa Da Colina é um ótimo lugar pra se tocar e já virou rota para as bandas de outros estados tocarem também. Sobre esse "intercâmbio" você mantém contato com outros organizadores pra organizar datas compatíveis ou o pessoal que entra em contato contigo?

Esse lance do Intercâmbio já rolou de algumas maneiras. Já rolou de outros organizadores entrarem em contato comigo, bandas que querem fazer trocas de shows, as próprias bandas entrarem em contato e eu entrar em contato com as bandas.
Essa variedade de possibilidades só mostra que quando se quer movimentar algo da pra se fazer, por mais que existam algumas pessoas e bandas que dificultam as coisas, ainda existem pessoas dispostas a meter a cara pra ''pelo menos tentar'' fazer aquilo que realmente gostam. Basta ter disposição, boa vontade e um pouco de bom senso.
Devido à essas possibilidades já tive o prazer de trazer algumas bandas legais de outros estados como: Linha de Frente e Dor ou Revolta (Brasília), Capetão América (Juiz de Fora), Sonary (Belo Horizonte), Ayat Akrass (Curitiba), F.A.R.P.A (Porto Alegre), Alto Teor de Revolta, One True Reason, Bayside kings, Infecção Raivosa (São Paulo) e já está agendado ainda pra esse ano a vinda da Oligarquia, Surra e Mollotov Atack (São Paulo).
Espero que essas parcerias e possibilidades continuem e aumentem cada vez mais, acho importante e muito válida essa interação com outras cenas, conhecer novas pessoas, novas bandas, novos sons e culturas e com isso fazer boas amizades como tenho feito ao longo desse tempo.

9) Legal cara, isso é muito bom. 
Allan é importante bate papos assim como o que tivemos aqui. Agora passa um pouco pra gente quais são suas perspectivas pro futuro quanto aos eventos, e de praxe, como venho fazendo, faz algumas boas indicações pra gente de coisas bem relevantes fora do nosso cenário musical. 

Com certeza, bate papo como esse são importantes sim e é bom ter pessoas como você interessadas em divulgar de uma forma honesta as ideias e trabalhos de pessoas envolvidas na cena.
Quanto ao futuro dos eventos a única coisa que tenho certeza é de que manterei até Agosto desse ano pois é quando a produtora e os eventos comemorarão 10 anos. Depois disso apesar de já estar com a agenda fechada até Outubro, vai depender muito da valorização por parte da galera. Sei que provavelmente nunca vou parar de fazer o que faço, mas de repente caso não haja muito mais essa valorização eu dê uma parada pra repensar algumas coisas e tal.
Pretendo também continuar com esse trabalho de artes que tenho feito pras bandas, pois apesar de saber que ainda tenho muito a aprender tem sido algo que tem me trazido uma satisfação e uma realização profissional também. Mas como eu disse ainda tenho muito a aprender e estou apenas engatinhando nessa área de Designer. 
Agradeço pelo convite para essa entrevista mano e parabéns pelo trabalho honesto que faz !

Indicações. Bom como gosto muito de filmes indicarei alguns:

Febre do Rato, Reis e Ratos e Paraísos Artificiais (Nacional)
Pulp Fiction e Django (Tarantino)
Réquiem para um sonho
O Barco do Rock
Frankenweenie, 9 (A salvação) e Abraham Lincoln (Tim Burton)


Contatos Na Espinha Produções / Na Espinha ArtworK

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sábado, 8 de junho de 2013

Sou hardcore, mas infelizmente, ele não me representa mais



Quero deixar claro que isso aqui é um desabafo e não regras ditadas.

Entrei nessa de hardcore por acreditar que era a melhor forma de mudar o mundo. Até então as pessoas faziam boas músicas, se envolviam com atividades visando melhor o nosso cotidiano e algo era construído. Era uma forma de lutar lado a lado com quem tinha os mesmos ideais.

Hoje tudo isso se perdeu. Nos tornamos exatamente iguais como aqueles que criticávamos. Somos velhos, chatos, acomodados e hipócritas. O hardcore de hoje é elitista e segmentado.

Nesse meio se tornou proibido ter opinião. Você é obrigado a concordar com os mesmos pensamentos, dizer que a banda é boa (mesmo ela sendo ruim, e hoje a maioria delas são) e ter que ouvir abobrinha de esquerda de alguém que nunca passou da página dois de qualquer livro marxista. Pensar fora da caixinha é proibido.

A diversão preferida dos hardcoreanos - quando não é comprar camisa de banda - é criticar os outros e se auto-afirmar como mais hardcore. O discurso é o que fulano da outra crew fez é ruim, pra fazer direito tem que aprender comigo. Mas o discurso nunca é transformado em ação.

Somos tão egoístas que não deixamos nossa turma se renovar. Nos shows são sempre os mesmos rostos, bandas, tudo sempre se repetindo. O sentimento hardcore surge depois de assistir um show bom, mas a porta do pico se fecha e a sensação de ser hardcore some antes mesmo de chegar em casa.

Muitos da galera que um dia ousou mudar o mundo agora só se preocupam em ficar bêbados, onde fumar sem ser explanado e como conseguir a próxima carreira de pó. A vontade lutar e a capacidade de sonhar sumiram, assim como o espírito de vocês.

Sou vendido, trabalho para a grande mídia, já fui funcionário das Organizações Globo e odeio ser contra a lei. Apesar de ser taxado de careta, ainda tenho o meu espírito jovem. A juventude de quem acredita que pode mudar com um passo de cada vez. Hoje em dia acredito muito mais que posso ajudar alguém com minhas matérias publicadas em jornais “que falam mentira” do que usando o hardcore para fazer qualquer coisa.

Não me rotulo mais hardcore e me sinto mais livre para agir. Não tenho mais regras para seguir. Apenas a vontade de sentir a minha juventude batendo no meu peito.

(*) Athos Moura tem 25 anos. 
Atualmente é jornalista do Jornal O Dia, já trabalhou com grandes mídias inclusive O Globo e Jornal Extra. Também já atuou em algumas bandas bem consideráveis da cena underground carioca como Ataque Periférico e Against.